sábado, 4 de setembro de 2010

VIDAS NA ROÇA

Todas as segundas, quartas e sextas à tarde são passadas nas Roças. Para Plancas Primeiras vai a Inês, o Zé Luís e eu e para Plancas Segundas, a Isabel, o Mário e a Madalena (uma voluntária que também está na casa das Irmãs e que tem colaborado connosco). Normalmente levamos ainda algum grãozinho de cá - sentimos que ficamos todos a ganhar – eles próprios, nós, e as pessoas com quem estamos na roça. Muito embora as roças estejam à distância de poucos quilómetros uma da outra, as realidades são bastante diferentes. Apercebemo-nos disso quando chegamos a casa, e nos sentamos a lanchar contando como correu o trabalho daquela tarde.
Chegados à roça somos quase invariavelmente recebidos pelo Senhor António, um homem na casa dos 50 anos que nos acolhe sempre com um enorme aperto de mão, reflexo (acreditamos nós) da alegria e gratidão que sente por nos ter ali. Depois costumamos fazer uma espécie de visitas domiciliárias às pessoas mais idosas e/ou pessoas que vivem sozinhas nas na roça. São elas a Dona Maria, o Senhor Estevão e a Dona Cândida. Vamos às suas casas e estamos com as pessoas. São de uma simplicidade e uma espontaneidade tão grandes que me sinto ainda mais pequena no meio de pessoas com uma vida tão difícil e ainda assim com um coração tão tão grande.
Logo numa das primeiras idas à roça, ainda com o intuito de perceber e conhecer melhor a realidade, avaliar as necessidades das pessoas e perceber o tipo de actividades que iríamos desenvolver, conhecemos a Dona Maria. Uma senhora com 83 anos, cheia de vida e que estava à porta de casa a descascar bananas, enquanto um dos seus filhos preparava um peixe-palhaço, que seria o jantar deles. Algumas netas também ajudavam a descascar as bananas. Uma delas, com menos de 5 anos, brincava com uma faca afiadíssima. Avó, mãe, tias, primos, todos estavam a ver mas com o ar mais natural e descontraído de sempre. Que confusão que isto me fez. A única coisa que disse, ainda a medo foi “Não será melhor tirar a faca das mãos dela?” enquanto peguei na faca e a dava à Dona Maria. Esta foi a primeira de muitas vezes em que vi isto acontecer…
Enquanto falávamos com a Dona Maria, nos apresentávamos e explicávamos o que era o Grão, perguntamos também que tipo de apoio e ajuda ela achava que podíamos dar na roça. Qual não foi o nosso espanto quando ela nos diz “Eu gostava muito que fizessem orações ”. Olhamos os três uns para os outros e sorrimos. Apenas sorrimos. E prometemos que isso iria acontecer. Na semana seguinte cumprimos a promessa feita. Chegamos à roça e quando o Senhor António nos perguntou qual era o plano das festas para aquela tarde nós dissemos que teríamos um momento de oração com toda a comunidade e depois faríamos 2 jogos com crianças. Foi incrível. Tínhamos levado apenas algumas velas e com alguns paus que encontramos na roça fizemos uma cruz que atamos com folha de bananeira seca. Em poucos minutos estávamos cercados de crianças sentadas no chão, apareceram bancos caídos do céu, onde os adultos e as pessoas mais velhinhas se sentaram e de repente a roça ficou em silêncio. Benzemo-nos e explicamos que iríamos rezar o terço, uma oração simples e de fácil compreensão. Cantamos o “Mostra-me Senhor, teus caminhos” e começamos a rezar…Entre os mistérios as pessoas iam pondo as suas intenções…No fim, cantamos novamente, mas desta vez escolhemos o “Vem Espírito, sozinho eu não posso mais” e rezámos um Pai-Nosso de mãos dadas. Que paz e que tranquilidade se sentiu naquela tarde….Desde esse dia que a Dona Maria nos pediu se podia guardar a cruz e as velas e sempre que fazemos oração usamos essa mesma cruz que ela guarda religiosamente em sua casa.
Num outro dia na roça fomos a casa do Senhor Estevão, a casa estava completamente suja e desarrumada, os vidros com teias de aranha, comida pelo meio do chão, horrível. Então, olhamos uns para os outros e pensamos “Temos de fazer alguma coisa” e dissemos ao Senhor Estêvão que lhe limparíamos a casa naquela mesma tarde mas ele não quis. Sentia-se envergonhado por ter a sua própria casa naquele estado. Chamamos algumas netas dele que se encontravam ali, para nos ajudar mas mesmo assim foi em vão e ele insistia que não queria. Qual não é o nosso espanto quando na vez seguinte que fomos à roça ele veio receber-nos dizendo que queria muito que fossemos a sua casa. E imaginem o motivo…tinha feito uma mega limpeza à casa, fez a cama, dobrou as roupas que andavam espalhadas pela casa, varreu, tirou teias de aranha…O melhor de tudo foi ver a cara de felicidade e de orgulho do senhor enquanto nos mostrava a casa e ía dizendo “Estive a fazer isto toda a manhã”. Para nós foi também uma alegria enorme perceber que aquela nossa ideia teve resultados tão visíveis.

Aproveito este post para dizer que entre o dia 6 e o dia 15 vamos estar na roça Praia das Conchas a animar 2 campos de férias - um de formação de animadores e o outro com crianças, pelo que, para a semana não vamos conseguir escrever aqui!


Inês Caeiro

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

folGRÃO

Quinta-feira de folga – 26 de Agosto de 2010 – Ilhéu das Rolas. Oceano Atlântico, linha do Equador, Hotel Pestana. Água transparente, quente, areia branca e coqueiros a decorar a paisagem. Ilhéu das Rolas: não há adjectivos à sua altura. O valor que lhe damos neste momento (julgo estar a falar por todos) é, talvez, desproporcional em relação ao seu real valor, mas este encontra-se irremediavelmente relacionado com o “bem” recebido. Porque se é sabido que o sol faz maravilhas, é ainda mais verdade que o sol faz mais maravilhas se estivermos deitados à beira-mar, de água de coco na mão, depois de uma intensa semana de trabalho.
O dia começou bem cedo, às 5:00 da madrugada já estávamos prontos para encher bules, para a oração da manhã e para o pequeno-almoço. A HIACE levou-nos à cidade (capital) e corremos até ao hotel de onde partia o transfer. Graças aos atributos físicos da Inês Caeiro apanhamos boleia do carro da cooperação nigeriana que nos salvou o dia. Contudo, e a bom modo português, chegamos atrasados e perdemos o jipe que nos iria levar até Ponta Baleia para apanharmos o barco. A solução foi a carrinha dos trabalhadores do hotel que também tinha o mesmo destino. Chegámos, embarcámos (em alto mar percebemos o porquê do azul-marinho ser marinho), e passados 15 minutos aterrámos no paraíso.
Check-in feito. Mapa na mão. Marco do Equador. Latitude 0. Pela primeira vez estivemos em dois lugares ao mesmo tempo. Continuamos pelos trilhos da floresta até ao ponto mais alto da ilha, o farol vermelho. O guardião deste abriu-nos a sua porta (sim porque este senhor mora lá sozinho o ano inteiro) e pudemos avistar todo o ilhéu e ainda grande parte do sul de S. Tomé. Cheios de fome dirigimo-nos até ao restaurante do hotel. Passamos pela piscina e prometemos dar-lhe um mergulho. Não tínhamos um almoço assim já lá vai quase um mês, deliciamo-nos então com a carne de vaca (coisa rara nestas bandas), com as coca-colas, com o salame de chocolate, tarte de maracujá e doce de banana. Já bem nutridos cumprimos a promessa à piscina, esta de água salgada e em forma de coração encheu-nos as medidas. Espreguiçadeira ao centro. Piscina á retaguarda. Areia à distância de um passo. Ai passámos o resto da tarde, e que tarde! O regresso estava marcado para as 16:30 (cedo de mais) e após a tentativa falhada de nos barricarmos num bungalow vimo-nos obrigados a voltar para o barco. A viagem de volta custou 10 vezes mais que a ida, a estrada parecia ter ainda mais buracos e o motorista parecia conduzir ainda pior. Chegámos ao ponto de partida e a HIACE trouxe-nos de volta a Guadalupe. Já jantados vamos dormir, pois uma nova semana de missão nos espera, com a certeza de que esta folga nos deu a energia necessária para a enfrentar.
O Ilhéu das Rolas é uma porção de terra rodeada por mar no sul de São Tomé e Príncipe, descoberta por Gago Coutinho e habitada apenas pelos hóspedes do hotel e por não mais de 10 famílias. Muito foi visto e muito ficou por ver, esperemos então que haja uma segunda visita. Talvez em outra missão, talvez em passeio, o desejo é regressar.

Não foi a primeira vez que a Inês Alencoão visitou o Ilhéu. Aqui reviu e se despediu de amigos que lhe são muito queridos, por isso este post é-lhe dedicado.


Zé Luís

São Tomé à mesa

Matabala. Fruta-pão. Calulu. Flu flu. Cachupa. Isaquente. Moqueca. Carambola. Massa bruta. Para os mais distraídos estes nomes podem-se confundir com tipos de música são-tomense, mas não, são pratos típicos. Fritos, cozidos ou assados, bons ou menos bons, todos demoram muito tempo a preparar. Os nativos afirmam até que a cozinha nacional é a mais demorada do mundo. Na terra onde não há vacas o frango reina, mas o peixe continua a ser a base da alimentação deste povo. Quanto nós, já um tanto ou quanto fartos de peixe ou frango frito, resta-nos deliciarmo-nos (ou não) com a grande variedade de frutas exóticas desta ilha. As bananas vencem o concurso das mais desejadas mas a carambola, o mamão, a jaca e o maracujá (todos em tamanho XXL) não lhe ficam atrás.
Todas as nossas refeições são acompanhadas por água. Esta é imprópria para consumo, pelo menos para o nosso, e têm de ser fervida ou tratada com 10 gotas de lixívia por cada 5 litros. Não se pode dizer que esta água de piscina faça as maravilhas da casa mas como diz o ditado “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

Zé Luís

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De sol a sol

Em São Tomé tudo acontece cedo. As meninas ficam “de barriga cheia” cedo, a chuva chega cedo, as crianças abandonam a escola cedo e o dia começa MUITO cedo. Às 5 da matina já há reboliço pelas ruas da maior cidade do distrito, pouco maior do que qualquer aldeia do interior de Portugal. As crianças já apanham água na fonte, os cães já ladram incessantemente, as janelas e os tachos já batem em casa dos vizinhos e já se berra pelas ruas como se o sol estivesse combinado com as gentes para não nos deixar dormir depois das 6 ou 7 da manhã.

Todos os dias, depois de um doloroso ritual de início de dia, cada um parte para os seus afazeres.

A Inês Caeiro e a Inês Alencoão passam as manhãs nos centros de saúde do distrito, quatro ao todo. Entre conversas com aqueles a quem a solidão dói bem mais do que a doença e formações sobre maternidade ou cuidados de saúde, têm tempo para perceber a realidade dos enfermeiros e médicos. Os últimos, ainda mais escassos no país do que a água, formaram-se maioritariamente em Portugal e Angola. Já aos enfermeiros basta um curso de três anos tirado cá que, ainda que não seja reconhecido em nenhum outro país, aqui lhes permite passar receitas, fazer tratamentos, limpezas e o que mais for preciso.

O Zé Luís e eu caminhamos todos os dias para a escola secundária de Guadalupe, onde os professores nos olham de lado e pedem licença ao corpo para nos responder a alguma pergunta ou dar a chave das salas onde damos explicações de português e matemática a oito crianças. Estas meninas e meninos tentam preparar-se para entrar no 7º ano do IDF (Instituto Diocesano de Formação). Esta escola, com o currículo português, é bem mais exigente e abre bem mais oportunidades do que a escola são tomense. Nesta última, as turmas chegam a ter 60 alunos, ainda se dá uso à vara e à régua e pode-se tirar o curso de professor com o 8º ou 9º ano de escolaridade, o que corresponde, segundo alguns, a um 6º ano português. As lacunas, em algumas crianças, são maiores do que se possa imaginar num grande exercício de imaginação. Em outras, sente-se uma forte vontade de aprender e de um dia poder ser “proféssô” ou “doutorr”. Só por estes, mesmo que sejam um ou dois, já vale muito a pena passar vários minutos a explicar que 4x2 não são 7. O Zé Luís, disléxico desde novo, dá aulas de Português. Na sua sala, já vi as crianças a rir a bandeiras despregadas e a chorar ofendidas com os seus berros. Eu dou de Matemática, tentando manter o sorriso mesmo quando uma criança do suposto 6º ano me desenha um triângulo em vez de um rectângulo e responde incessantemente que 3 a dividir por 1 é 1.

O Mário é o nosso homem dos sete ofícios. Entre aulas de guitarra aos jovens, preparação das actividades da tarde e planeamento dos campos de férias, as suas manhãs passam-se ora em casa, ora pelas ruas de Guadalupe, ora em reuniões no edifício da ONU na capital.

As tardes, ocupamo-las no ATL e nas roças.

O ATL é especialmente importante para ensinar às crianças, que crescem e vivem a maioria do seu dia na rua, regras tão simples quanto a formação de uma fila ou a espera da sua vez para falar. Entre uma regra e outra, é bom ver a felicidade dos 30 ou 40 miúdos quando os pomos a imaginar o seu futuro num papel ou a ver a sua cidade com novos olhos através de um peddy-paper.

Plancas I e Plancas II são “a nossa praia”. Na verdade, são antigas dependências de uma grande e outrora bonita roça chamada Agostinho Neto, ou seja, são relativamente mais pequenas e trabalhavam para ela. Nas roças, agora desactivadas e com os terrenos divididos e entregues à população, produz-se cacau de forma mais ou menos “cooperativizada” e é disso e do que mais o campo der que as pessoas vivem. As pessoas são especialmente sujas e negligenciadas mas também especialmente receptivas e amáveis. Aí, estamos com as pessoas, entretemos as crianças e daremos formações. Acima de tudo, estamos com as pessoas.

Outras actividades de menor intensidade semanal são as visitas ao orfanato da Caritas na capital, em que as crianças normalmente lá entregues pelos próprios pais são autênticos brigadeiros à espera de um abraço e muita brincadeira, a animação de um grupo de jovens e da Adoração ao Santíssimo. Preparamos ainda, com a parceria da UNICEF, um mega campo de férias com o qual esperamos vir a alargar os horizontes de crianças e jovens de três roças, sensibilizando-os para a igualdade de géneros, gravidez na adolescência, exploração do trabalho infantil, entre outros temas.

Assim, nesta roda-viva imparável, já lá vão mais de 20 dias, muita saudade, algum sono mas muita muita alegria.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O nosso lar

Venho falar-vos da verdadeira frente de combate, a massa activa desta região: a Comunidade das Irmãs de Guadalupe. De seu nome Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, são actualmente três: a Irmã Rosa, a Irmã Felismina e a Irmã Fátima. É na sua casa que nos acolhem com todo o carinho.

A Irmã Rosa, com os seus 40 anos acabados de fazer, é a superior da comunidade. Pequenina, é enfermeira de formação e trabalha no Posto de Saúde de Guadalupe todas as manhãs, entre fazer triagem dos doentes, curativos, passar receitas de medicamentos, medir tensões e auscultar… aqui o enfermeiro é polivalente! Todas as questões da área da Saúde passam por ela nesta comunidade. Para além disto, coordena a catequese na Paróquia de Guadalupe e orienta o grupo de vocacionados.

A Irmã Felismina tem uma energia imensa – anda sempre de um lado para o outro com o seu bloco de notas em punho e com uma vasta lista de afazeres. Em São Tomé e Príncipe, todos a conhecem – é vê-la entrar pelo edifício das Nações Unidas dentro para falar com o Dr. Fulano e Sicrano. Sempre despachada, no seu passo rápido, coordena o ATL para cerca de 60 crianças da 3ª à 6ª classe na Paróquia de Guadalupe; dirige a pastoral da família e outros grupos da paróquia.

A Irmã Fátima, a mais velha das três, é a única que conduz. É comum vê-la passar no jeep branco com a mala cheia de sacos de arroz e feijão do WFP – World Food Programme – para distribuir aos idosos mais carenciados das roças da região.

Os dois maiores projectos que as Irmãs desenvolvem são: o ATL e o Lar das Cotovias. O Lar das Cotovias é um projecto de formação integral da mulher – tanto ao nível do acompanhamento escolar como na dimensão humana e cívica. Existe há mais de 7 anos, e acolhe cerca de 20 meninas de várias roças de Guadalupe, durante o ano lectivo, cujas famílias não têm possibilidades ou moram muito longe para fazerem o percurso a pé para a escola todos os dias.

A simplicidade e a alegria são o cartão de visita destas Irmãs que nos são já muito queridas. A nossa missão aqui, o nosso grão, passa muito por aprender e bebermos destes exemplos-guia que as Irmãs representam.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Primeiras impressões de Guadalupe

Em Guadalupe, A rua vive 24 horas/ dia. A qualquer hora, ouvem-se galos, motas em correria, hiaces amarelas atoladas de pessoas e mercadorias a apitar constantemente, cães abandonados já com pouca força para ladrar. À mistura, gritos de crianças que aqui nascem umas atrás das outras, e discussões de política pela rua. Domingo, houve eleições legislativas – dizem que ganhou o ADI.

As pessoas parecem-nos felizes, apesar da pobreza notória, tanto material como espiritual. Todos nos dizem “Bom dia” e, de vez em quando, escutamos o abafado “Olha o brranco!”. As crianças passeiam-se descalças e de roupas rotas e são chamadas por um nome de rua: Baby, Mano, Daisy, Marla. O seu nome de cédula, ou de escola, é diferente e bem mais complicado. Já aprendemos a acreditar que têm, pelo menos, mais dois anos do que aparentam pelo seu ar pequeno e mal nutrido.

Apesar da sujidade que as cobre, poucas pessoas passam fome: vivem da terra fértil que as alimenta. A maioria dos homens pesca e das mulheres colhe bananas. No resto do dia, bebem cacharamba (aguardente de cana) e, os que podem pagar, somam-lhe também cerveja.

Há uma mistura forte e clara de África e da Europa na cultura destas gentes. Ainda se sentem sinais de colonialismo na conversa dos mais velhos, na postura tímida dos mais novos, e até nos edifícios mal tratados e abandonados. Mas a paisagem, o choro cantado e esperneado das mulheres que têm os filhos doentes, e as festas de quintal não enganam: é África.

Por enquanto, estamos a palpar a terra, na tentativa de perceber as gentes, distinguir os sons, os cheiros, os sabores…

A chegada

Mais de uma hora entre o aterrar em solo africano e o respirar fundo o ar húmido e denso de São Tomé. A Irmã Felismina acena pacientemente, do outro lado do vidro, e com um sorriso de orelha a orelha. Nos momentos seguintes, entre longas esperas e check aos passaportes, verificam o boletim internacional de vacinação - “Tomou vacina? Mostra boletim!” Aí, fizemos aquela cara 32, tipo “ir buscar agora o boletim ao fundo desta mala gigante!?”, e, sem dizer nada, ele olhou-nos e mandou seguir.

Já do lado de cá, recebem-nos a Irmã Felismina, a Irmã Rosa e uma onda de crianças que imploram “amiga, amiga, compra, compra” e, quando explicámos que vamos cá ficar dois meses, a resposta foi imediata: “não esquece meu nome, Jackson; dia 24 vou fazer negócio contigo”.

A viagem com destino a Guadalupe fez-se em duas pick-ups conduzidas pela Irmã Rosa e pelo Zé (leigo para o desenvolvimento que cá está em Missão). Não há sinais, passadeiras, não há prioridades à direita, nem cedências de passagem; todos conduzem como lhes apetece, as motas a buzinarem em todo o lado e a agitação hilariante de um país em plena campanha eleitoral! Carrinhas cheias de pessoas de azul e amarelo a gritarem ADI e outros com t-shirts e bonés do MLSTP. Começámos a ver os primeiros contrastes: do lado esquerdo da rua, vemos mulheres com os filhos às costas e outras crianças descalças e com roupa rota a deambular sozinhos; do outro lado, palmeiras enormes e um mar azul-límpido… uma marginal paradisíaca.

Chegámos à casa das Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora!

quarta-feira, 21 de julho de 2010


Todos nós conhecemos alguém que não faz bem a distinção entre o CREU centro (leia-se CRÊU) e o creu dança (leia-se créu) ou, ainda mais frequente, entre o CREU e o Grão. E por mais tentativas que se façam, a dúvida persiste.

Pois bem, para informação geral, o creu dançado NÃO tem nada que ver com o que fazemos.

Já o CREU como Centro de Reflexão e Encontro Universitário sim, tem a ver connosco, tem MUITO a ver connosco. "Na casa estuda-se, come-se uma tosta a meio da tarde, reúnem-se grupos de crescimento na fé ou de acção social e acontecem muitas actividades", sempre com muito boa gente à mistura. Um desses grupos de crescimento na fé (e de acção social) é o GRÃO.

O GRÃO não é, portanto, mais do que um grupo de pessoas com o mesmo objectivo e reunidas em torno de um mesmo ideal que se juntam regularmente no CREU. E já é muito!

"O Grão é formado por jovens universitários e recém licenciados, com valores católicos e centrados no voluntariado. Criado em Outubro de 2005, está ligado à Companhia de Jesus, mais precisamente ao Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola (CREU-IL), no Porto.


Respeitando a cultura local, propomo-nos colocar a nossa formação e experiência ao serviço destas comunidades contribuindo para o seu desenvolvimento e, simultaneamente, proporcionando-lhes novas oportunidades e esperança num futuro mais próspero.

Foi neste sentido que nos anos de 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009 se desenvolveram encontros de formação, trabalho e dedicação que culminaram em dois meses de missão. A primeira decorreu no norte de Moçambique, na Missão de Fonte Boa, a segunda em Angola, nas cidades de Uíge e Benguela e a terceira e a quarta em S. Tomé e Príncipe, na cidade de Guadalupe. Nestes quatro anos o Grão colaborou com Missões e ONGDs católicas, sendo de relevar a experiência forte de serviço e crescimento pessoal que cada voluntário adquire numa experiência desta natureza."

Mas o que faz o GRÃO durante o ano?

Pois bem, na prática, o ano consiste em formação.

Geralmente, em Outubro, dá-se início a um novo ano GRÃO e à primeira fase de formação, que durará até por volta de Maio. Esta fase tem como objectivo aprofundar a relação entre os grãozinhos (os aspirantes a missionários) e a relação com Deus e como tal tem reuniões quinzenais e outras actividades como fins-de-semana de formação, cursos de relações humanas, um curso intensivo de fé (CIF) e exercícios espirituais de 3 dias.

Na segunda fase de formação, que dura até à partida e onde participam só os grãozinhos prontos a ir em missão, tratam-se assuntos mais práticos e mais relacionados com o lugar de missão.

Ao longo do ano, ouve-se aqui e ali falar do GRÃO. Ou numa venda de bolos à porta da igreja, ou num cartaz que anuncia um arraial, ou num convite para uma noite de fados. Todos estes momentos são importantes para divulgar o GRÃO e, claro, para reunir os fundos de que precisamos.

Este ano, como o grupo era grande, foi dividido em duas missões a realizar em simultâneo. Uma será no Cubal, em Angola e a outra em Guadalupe, em S. Tomé e Príncipe.

Neste blog, poderá acompanhar a missão angolana, da qual fazem parte o Tiago, a Carolina, a Teresinha, o Zé Maria e a Raquel.

Aqui mesmo, a são tomense.

Pois bem, esperamos humildemente que agora não pensem em danças de rabo quando ouvirem a palavra CREU e que pensem em nós quando ouvirem falar do GRÃO.

terça-feira, 20 de julho de 2010


SOMOS NÓS! Para quem desconfiava da cor do cabelo, se tinha esquecido do quinto elemento, ou tinha dúvidas sobre a a relação de alturas, aqui vai a fotografia oficial do grupo GRÃO da missão de 2010 em S. Tomé e Príncipe.

Da esquerda para a direita:
Zé Luís, estudante de arquitectura, 22 anos, natural de Braga
Mário, estudante de gestão, 21 anos, natural de Santo Tirso
Inês Alencoão, estudante de medicina, 20 anos, natural do Porto
Isabel, economista, 20 anos, natural do Porto
Inês Caeiro, psicóloga, 23 anos, natural de Baião

Estas cinco caras lindas serão inseridas na missão das Irmãs Franciscanas em Guadalupe, uma cidade a norte da ilha de São Tomé. Com partida agendada para o dia 29 de Julho, têm o seu regresso marcado para o dia 24 de Setembro.

Este blog será uma óptima (e quase única) forma de todos os interessados, curiosos e perdidos na Internet acompanharem a nossa missão. O acesso à Internet é escasso mas tentaremos sempre que possível enviar notícias fresquinhas da linha do Equador.